A guerra da Ucrânia completou, nesta quinta-feira (23), 1 ano. Após seu início ocorrer através da invasão do país pelo exército russo, o mundo questiona o motivo da agressão de uma potência nuclear na possibilidade de anexar o território de outro país sem ser punido. As consequências desse conflito não só afetam a Ucrânia, e os países que fazem fronteira com os personagens desse conflito, mas acende um sinal de alerta para outros territórios como Taiwan, cobiçado pela China.

foto: Sergei SUPINSKY / AFP
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, tem sofrido críticas em relação ao seu autoritarismo e da sua ideologia na ação empregada na Ucrânia, e suas decisões apresentaram outra questão: até que ponto o Ocidente está disposto a defender a democracia, os valores conservadores e liberais, ameaçados com a tentativa russa de subjugar o país pertencente a Europa Oriental (oriental, porém mais ao ocidente).
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Desafios como o grande custo vindo na forma de inflação de energia, causada pelas sanções contra o gás russo, e da ajuda humanitária e militar à Ucrânia, que somou US$ 100 bilhões em 2022, devem acrescentar valor igual ou maior este ano.
Nesta terça-feira (21) o presidente Putin em seu discurso sobre o Estado da União para o Parlamento russo, fez referência às questões sobre o aniversário da guerra, uma delas foi a suspensão da participação da Rússia no último acordo de controle de armas nucleares ainda vigente entre ela e os Estados Unidos, o Novo Start. Embora o mandatário da Rússia ter afirmado a saída do país do acordo nuclear, na prática, não muda muita coisa, pois nenhuma inspeção foi feita no ano passado, e o regime estava prejudicado desde o início da pandemia, em 2020.
A decisão reforça a chantagem nuclear de Putin, no sentido de negar informações aos americanos sobre o estado de prontidão de seu arsenal estratégico. O presidente russo declarou que “a Rússia não pode ser derrotada”. Na época da invasão, Putin ameaçou qualquer país de interferir no conflito.
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“Quem quer que tentar se interpor no nosso caminho ou mais ainda criar ameaças para nosso país e nosso povo deve saber que a Rússia responderá imediatamente, e as consequências serão tais que vocês nunca viram em toda a sua história”. Afirmou.
O perigo de um conflito nuclear tem se intensificado após o Ocidente deliberar os pedidos de armas mais pesadas e sofisticadas para a Ucrânia. A ajuda começou com drones e foguetes portáteis, evoluindo para canhões, baterias antiaéreas, blindados, mísseis de longo alcance e, finalmente, tanques de batalha.
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Mais uma vez, os aliados resistem, por receio de serem responsabilizados por uma “escalada”, outro nome para um ataque nuclear russo, que desencadearia o envolvimento direto da Otan, devido às repercussões do uso de armas de destruição maciça nas vizinhanças dos aliados europeus.
Putin utiliza sua cartada nuclear em tornar cada vez mais a única opção do mandatário. Informações preliminares indicam que a suposta grande ofensiva russa esperada para o final do inverno setentrional, ou seja, a concentração de tropas russas na fronteira, simplesmente não aconteceu. E se a tática era uma ofensiva gradual, também não tem surtido efeito.
Desde meados do ano passado a Rússia não toma nenhuma cidade ucraniana. As Forças Armadas ucranianas pagam um alto preço, em perdas humanas e de munição, para defender essas cidades, não por seu valor operacional e tático, mas porque perceberam a decisão de Putin de tomá-las a qualquer custo para ter alguma vitória a apresentar precisamente agora, no aniversário da invasão.

Foto: REUTERS/Ann Wang
O fato é que nenhum país está atualmente preparado para uma guerra tão prolongada, de maneira que cria as condições para fabricar munição e armas para fornecer à Ucrânia é uma das discussões centrais na Otan. A Rússia, de sua parte, tem comprado drones e mísseis do Irã. A Coreia do Norte tem fornecido foguetes e mísseis para o Grupo Wagner e munição para as Forças Armadas regulares russas, segundo a Casa Branca.
Putin tem solicitado apoio militar da China, que até agora tem evitado se envolver para além da compra de petróleo e gás russos. A visita de Wang Yi, o chefe da diplomacia chinesa, a Moscou, na quarta-feira (22), foi mais um capítulo nessas tratativas.
Os Estados Unidos e os principais governos europeus perante a cúpula chinesa têm se concentrado em convencer a China a advertir Putin a não empregar armas nucleares. Essa seria a condição ocidental para não adotar represálias contra a China por seu apoio econômico e político à Rússia. O receio desses países é a possibilidade de Putin sentir uma eventual derrota na Ucrânia como uma ameaça existencial ao seu país.
Três semanas antes da invasão da Ucrânia, Putin firmou uma declaração conjunta com Xi Jinping em Pequim, na China, firmando um termo de “amizade sem limites”. A China, fortemente dependente de exportações, e isso não interessa para o país a desestabilização da economia mundial. E nem se ver associada a uma potência nuclear imperialista.
Porém, no contexto geopolítico, a China se interessa no estresse na coesão dos aliados do Ocidente, incluídos adversários como Japão, Coreia do Sul e Austrália, que imagina a invasão da Ucrânia como causadora dessa desestabilização. Entretanto, não causou. Ao contrário, sedimentou essa coesão.